27 de abr. de 2010

A cerimônia do cachimbo





Esta cerimônia é um ritual sagrado para conectar os dois mundos, espiritual e físico. "O cachimbo é um caminho entre a terra e o céu", explica White Deer of Autumn. "Nada é mais sagrado. O cachimbo é a nossa prece na forma fisica. A fumaça torna-se nossas palavras, ela vai para fora, toca tudo, e se torna parte de tudo que existe. O fogo no cachimbo é o mesmo fogo do sol, que é a fonte da vida". A razão pela qual o tabaco é usado para conectar os mundos é que as raízes das plantas vão fundo na terra ao mesmo tempo em que sua fumaça encontra o céu.

Existem vários tipos de cachimbos e usos diferentes. Existem cachimbos pessoais e de família, assim como alguns especias para grandes cerimônias. A pedra usada depende da localização da tribo, e vários símbolos são adicionados para atrair determinadas energias espirituais. Além disso, o tipo de tabaco usado depende dos costumes daquela tribo com relação à cerimônia. Mas apesar dessas diferenças, existem certas semelhanças importantes: a cerimônia do cachimbo invoca uma relação com as energias do universo e, por fim, com o Criador, e a ligação feita entre os reinos terrestres e espirituais não pode ser quebrada.

Ed McGaa (Eagle Man), um Ogalala Sioux, e autor de "Mother Earth Spirituality: Native American Paths to Healing Ourselves ans Our World", diz que a maioria das cerimônias do cachimbo tem a mesma intenção: invocar e agradecer as seis energias: "Todas as nossas cerimônias Sioux vão para as quatro direções, à terra e o céu, e por fim ao Grande Espírito. Vemos nosso Criador através da natureza, e tentamos imitar o que o Criador fez. Isso tem funcionado bem, como você pode ver a partir da historia dos nativos americanos".

Eagle Man começa uma cerimônia de cachimbo suplicando o poder do ocidente, enquanto pensa sobre a vida e o sempre presente espírito do mundo. Em seguida, ele invoca o poder do norte, a fonte de resistência, força, sinceridade e honestidade, que são qualidades necessárias para percorrer um bom caminho na vida. Então, ele olha para o poder do leste. O leste é onde o sol nasce, e ele nos traz conhecimento, a essência da espiritualidade. Sem conhecimento nos tornamos ignorantes e causadores de danos a nós mesmos e aos outros. A quarta energia é o poder do Sul, o que nos traz graça, medicina e crescimento. O próximo a ser invocado é o espírito da terra. Eagle Man toca o cachimbo no chão, e diz: "Mãe Terra, eu busco protegê-la". Desde que a Mãe Terra depende da vida do sol para fornecer energia, os cachimbos são erguidos em direção ao céu. Por último, o cachimbo é estendido em linha reta até o Grande Espírito, Grande Mistério, fonte inexplicável da vida. Tais palavras são, então, ditas: "Oh Grande Espírito, agradeço às seis energias do universo". Ao contrário de muitos ocidentais, Eagle Man explica que a pessoa que atinge o mundo espiritual não tem medo: "A maioria de nós não tem medo do Grande Espírito. Não tememos algo que nos deu a vida."

É inimaginável para um nativo americano quebrar sua palavra depois de fumar o cachimbo sagrado em uma cerimônia. No passado, a assinatura de tratados era sempre acompanhada de tais rituais porque os índios acreditavam que fumando o cachimbo estariam assegurando o acordo. Ninguém seria tolo o suficiente para mentir ou voltar atrás em sua palavra uma vez que o cachimbo fora fumado, pois era o veículo de transporte de sua palavra para o Criador. E, em contrapartida, uma bênção desceria do Criador em direção à ele.

Claro, todos nós sabemos que o governo dos Estados Unidos não compartilhou desses acordos, e enviaram representantes para os índios para usar o cachimbo como um meio enganoso de conhecimento. Como White Deer of Autumn explica: "Você já ouviu falar do cachimbo da paz. Não existe tal coisa, em certo sentido, uma vez que surgiu quando o governo americano enviou emissários para os nativos. Naquela época, ainda éramos os senhores da terra; ainda detinhamos o poder. O governo americano teve de lidar com isso. Eles entenderam que o cachimbo iria permitir operações de paz porque nenhum índio jamais iria mentir ao falar na presença do cachimbo".

Ao desonrar o significado dessa prática sagrada, os tratados foram quebrados e a terra foi tomada, mas os benefícios foram de curta duração, como explica White Deer of Autumn: "Quando os europeus começaram a usar o tabaco, viram-no como um mercado, uma possibilidade de se ganhar dinheiro e, portanto, alteraram sua função. Agora ele está sendo mal utilizado, e você pode ver o que acontece quando um dom que nos foi dado é usado de maneira inadequada."

No entanto, para aqueles que entendem o seu verdadeiro significado, a cerimônia do cachimbo possui um grande poder, White Deer of Autumn continua, "Quando o tronco e a bacia estão desconectados, você tem dois objetos sagrados. Uma vez que o tronco e a bacia estão ligados você tem um ser vivo. E o cachimbo é tratado exatamente desta forma, como um ser que vive, que respira. Um padre católico, viajando pelo Mississippi, disse ter visto alguns homens colocando suas armas no chão momentos antes de fumarem. Não iriam lutar na presença de um cachimbo. Ele disse acreditar que, ao se carregar um cachimbo, qualquer um seria capaz de passar de um extremo desta terra para o outro sem ser incomodado.

Um grande homem sagrado, chamado Lame Deer, disse certa vez que enquanto um índio segura um cachimbo e ora para o Grande Espírito, todos vão viver. Isso é uma amostra do quão poderoso é um cachimbo"
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Infelizmente este ritual está sendo deixado de lado pelas novas gerações. Hoje em dia, apenas 20% da população indígena norte americana pratica tal ritual. É triste, muito triste. Que o Pai Grande nos ajude!

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